quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Ensino de Gramática: Um novo olhar para as aulas de português.




É curioso ouvir o termo “ensinar português”, pois sabemos que alunos de ensino Fundamental e Médio (níveis que abordaremos), falam e, portanto comunicam-se através do português, já que se trata de sua língua materna, adquirida em sua vivência diária.
Partindo dessa idéia a primeira questão que se levanta é o fato de ser preciso repensar a nomenclatura dada à esta disciplina, já que o termo “aula de português” insinua que o aluno não conhece sua própria língua, ou seja, não sabe o português..
Para que essa reflexão fique mais clara, é importante lembrarmos o conceito de língua estabelecido por Saussure de que a língua é um sistema de signos, um código que pretende estabelecer uma comunicação entre emissor e receptor. Ora, essa competência os alunos já possuem quando ingressaram na educação escolar, cabe, portanto à escola, aprimorá-la.
Segundo Travaglia, todo falante possui uma “competência gramatical” adquirida no dia a dia que permite a todo usuário da língua gerar sequências lingüísticas gramaticais sem se quer ter assistido a uma aula de gramática em sua vida.
     Ainda segundo Travaglia, o ensino de língua materna deve favorecer a competência comunicativa, competência esta que se estabelece por intermédio de textos de infinitos gêneros. Estes textos são produzidos tanto pela escrita, quanto pela fala, pois também através desta, elaboramos seqüências lingüísticas que formam um sentido completo. Partindo dessa diretriz, Travaglia segue afirmando que se o intuito das aulas de língua materna é ampliar a competência comunicativa, e se essa competência se estabelece através de textos, o que se tem a fazer, portanto, é trabalhar em sala de aula com os mais variados tipos de textos, nas mais diversas situações de comunicação. 

...”se deve propiciar o contato e o trabalho do aluno com textos utilizados em situações de interação comunicativa o mais variadas possível. Portanto se a comunicação acontece sempre por meio de textos, pode-se dizer que, se o objetivo de ensino da língua materna é desenvolver a competência comunicativa, isso corresponde então a desenvolver a capacidade de produzir e compreender textos nas mais diversas situações de comunicação”. (TRAVAGLIA. Gramática e Interação, 2008, p.19).


Sabemos então que qualquer falante nativo possui a essência gramatical que se aprende na vivência do dia-a-dia, e que essa essência o permite elaborar textos através dos quais ele irá se comunicar. Ou seja, o que basta para um mínimo necessário à comunicação em uma sociedade.
Houve um período em que baseados nesses fundamentos e atordoados pelos fracassos nas aulas de gramática, os professores chegaram a cogitar a necessidade de ensiná-la. Mas, não há como negar que, em uma sociedade, há situações em que não basta só comunicar: é preciso que se faça de acordo com certas convenções consideradas mais “corretas”, obedecendo a normas que são consideradas “padrão”.
Surge então o tema do maior problema enfrentado nos útimos tempos pelos professores de português: o ensino de língua padrão através das regras da gramática normativa, o grande pivô dos desencontros entre professores e alunos que, erradamente, se submetem à uma metodologia de estudo exaustivo de definições que só fazem sentido dentro do ambiente escolar, no qual os alunos só decoram o significado de cada qual na única intenção de tirar uma boa nota na prova.
 A Gramática Normativa ou Gramática Tradicional é considerada padrão em nossa sociedade, tem caráter prescritivo e custa a acompanhar a dinâmica que ocorre com a língua ao passar do tempo. Dessa maneira acaba ficando ultrapassada já que não sofre, junto com a língua, as mudanças que ocorrem ao decorrer do tempo. Esse caráter prescritivo é foco de estigma, pois considerada a língua padrão como única e absoluta e não aceita nenhuma outra variação, inclusive as de uso dos alunos.
Muito se questionou em torno do ensino de Gramática Normativa e sobre   a maneira que ela tem de  tentar “engessar” a língua, negando suas transformações e as variações. Esse e  outros questionamentos funcionaram como  deram origem  à uma ciência voltada para a linguagem, ao que realmente estava faltando para que novas metodologias e procedencias em sala de aula deixassem de se basear em questões empíricas,
Com os estudos recentes da linguística, teóricos chegaram à seguinte conclusão: Imposta ou não, opressiva ou não, a norma padrão regida pela  gramática normativa é uma realidade social, e deve ser apresentada como uma das variantes de sua língua materna.  O importante é deixar claro que não se trata da forma correta e única a ser seguida, e sim de uma, que é considerada padrão, em meio a outras variantes existentes.
A missão do professor de português é, portanto, transformar seu aluno num poliglota dentro de sua própria língua, de maneira que ele possa escolher a língua funcional adequada a cada momento de comunicação. Caberá a ele, elaborar metodologias de ensino  que despertem o interesse dos alunos em aprender língua padrão, e  fazer com que os conteúdos possam ser transferidos para a vida real, levando em consideração sempre, a realidade social dos alunos em questão.
O novo olhar para as aulas de português, não se refere ao abandono do ensino de gramática, mas a uma nova metodologia de ensino, na qual são considerados os conhecimentos de mundo que o aluno já possui. Toda a abordagem gramatical deve trazer uma linguagem clara sem definições ultrapassadas, livre de preconceitos e mitos dos quais precisamos nos despir.


Por Ana Paula Sousa.

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