sábado, 24 de setembro de 2011

Literatura Contemporânea






Grande ícone da nossa Literatura atual, Luís Fernando Veríssimo é um "poço" de criatividade. Seus textos são daqueles que não queremos parar de ler até que se veja o último ponto final!


Delicie-se:

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.



4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".




8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Tributando no Literaturando

Em homenagem ao aniversário de Amy, hoje, meu post traz a criatividade e o ótimo desempenho vocal da compositora e cantora Amy winehouse..

Dia 14 de setembro de 2011, Amy faria 28 anos.













Por Ana Sousa

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Concretismo - O projeto verbivocovisual

  
  Em 1952, a poesia concreta tem seu marco inicial com o lançamento da revista "Noigrandes" Fundada pelos poetas Décio Pignatari, Haroldo da Campos e Augusto de Campos.
Trabalhando de forma integrada o som, a visualidade e o sentido das palavras, a poesia concreta propõe novos modos de fazer poesia, visando  a uma " arte geral da palavra"

  O concretismo, sem dúvida foi um dos movimentos mais significativos e ricos da nossa literatura. Desconsiderados por boa parte da imprensa e mesmo da crítica, acusados de fazerem "poesia fria", os poetas concretos tinham em mente a incorporação do espaço e do avanço na esfera tecnológica, buscando uma maneira universal de comunicação, na linha de vanguarda. Com certeza, atingiram seu objetivo e instalaram uma nova percepção do poema, afinado com o olhar do século XX.

  Parece-nos importante salientar alguns aspectos relevantes dessa nova postura. Em primeiro lugar, a ruptura face ao verso implica, necessariamente, a desestabilização do lugar do poeta enquanto um "deus" ou "mito", objeto do culto por trazer a "palavra bela", capaz de encantar e emocionar. Neste sentido, ao trazer o signo em estado de pureza, descontextualizado, ele adquire uma liberdade de significação, resgatando sua historicidade, desde a origem até as camadas de superposição histórica recebidas. Por outro lado, ele poderá se deslocar para onde desejar o leitor, sem ter de seguir a trilha traçada pelo autor: livre das amarras, o signo adquire a consistência de ser, sem comprometimentos, obrigando o leitor a construir uma consciência portadora de sentido.

  Por conta da ruptura com o verso e a presença do signo "puro" (numa época de contaminação excessiva, trazida pelos veículos de comunicação de massa, que trazem a perda de sentido pela reprodução), fica o leitor na contingência de participar do processo criativo, dando significação às palavras, já que elas não se oferecem como doadoras. É, pois, a vivência participativa na esfera da criação que resgata o lugar do leitor (diferente do "ledor", que se dedica à superficialidade das coisas ditas, satisfazendo apenas as emoções "epidérmicas") como aquele capaz de interpretar. Saliente-se, então, a enorme importância do gesto libertário do poeta, ao abdicar do controle sobre o leitor.

  O gesto pressupõe, igualmente, uma postura política, na medida em que, ao desconstituir a possibilidade de mitificação, rompe com a ideologia do sistema, que insiste em auratizar a fala literária, endeusando o artista. Ao fazê-lo, presta um desserviço à arte, na medida em que cria um bloqueio, impedindo o acesso. Na verdade, o mito é, foi e será sempre uma fala do poder. À arte, sempre transgressora, cabe a função de profanar, como o faz o Concretismo, lembrando a parcela dionisíaca da literatura, às voltas muito mais com o oprimido do que com o opressor. Assim, longe de se constituir num "mito", ou um "deus", o poeta se torna um homem como qualquer outro, capaz de dialogar com todos os homens, num gesto de solidariedade humana (e não "divina").
  
  Ao fazê-lo, o poeta concreto resgata o sentido original da lírica, como aquela que fala do desejo. Ao expor a falta, é gerada a necessidade de completude (a fala do leitor), tornando-se tanto mais desejada porque capaz de seduzir (lembremos ser a sedução própria do feminino, ficando a parcela masculina com o discurso do poder). A poesia, por ser feminina, é ambígua, pressupondo necessariamente o diálogo, a dialética. Instala-se, portanto, a percepção do outro como diferença e completude, um jogo de morte/vida: morte, porque o "outro" é sempre a anulação do "eu"; vida porque o "eu" precisa da diferença para ser.
Neste momento, parece necessário salientar a incorporação da espacialidade ao poema. Numa época em que se constrói um olhar ex-cêntrico (deslocado para a mundaneidade), desatento pelo bombardeio feérico das tagarelices, vazias e imperativas na ânsia de persuasão (nada melhor que os meios de comunicação de massa para metaforizarem concretamente esta constatação), o signo espacializado numa página de papel obriga o leitor a redimensionar o olhar e a ouvir o silêncio.


















Por Ana Sousa

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Horácio Quiroga


Relembrando minhas aulas de Literatura Hispano-Americana



    Quiroga foi  um escritor uruguaio, famoso por seus contos que tratavam, geralmente, de eventos fantásticos e macabros. Professor e diplomata, Quiroga viveu  uma existência bastante dramática, marcada pela tragédia, resultado de uma série de suicídios em sua família: a morte violenta do pai, num disparo acidental de sua própria arma; o suicídio do padrasto, da primeira esposa, dos três filhos e dele mesmo.
A região selvática das Missões, inclusive a nossa Amazônia, foi ambiente marco de sua ficção e de sua própria vida. Apresenta de modo direto o efeito devastador do ambiente físico sobre o homem. O meio, para Quiroga, oferece conseqüências inevitáveis, e chega a ser uma das personagens principais em sua narrativa. Em seus contos, a selva é impiedosa, rege a ação dos homens e até o seu pensamento.
    Em sua narrativa, não encontramos o aconchego do campo e paisagens tranqüilas. A natureza apresenta-se de modo avassalador, avançando sobre o homem, não querendo deixar-se dominar. Impõe-se ao ser humano, levando-o, às vezes, até a ruína física. É o que acontece no conto “O travesseiro de penas” (livro A galinha degolada/ primeiro post deste blog), no qual um bicho, diminuto no seu ambiente original, torna-se mortífero para a personagem central.

    Em 1935, Quiroga é eleito cônsul honorário, numa homenagem da nação uruguaia ao seu talento. Em 1937, suicida-se com cianureto, após a notícia médica de que seu câncer gástrico era irremediável. 


 Abaixo, um dos contos mais conhecidos do autor.
                                                           



 A Galinha Degolada

Horácio Quiroga
Tradução: Jádson Barros Neves




*Obra-prima do autor uruguaio, incluída na coletânea “Contos de Amor, Loucura e Morte”, possui um clima perturbador. 





O dia inteiro sentados num banco do pátio, ficavam os quatro filhos idiotas do matrimônio Mazzini-Ferraz. Tinham a língua entre os lábios, os olhos estúpidos vazios e se voltavam com a boca aberta. O pátio era de chão batido, fechado a oeste por um muro de ladrilhos. O banco ficava paralelo a ele, a uma distância de cinco metros, e ali os filhos se mantinham imóveis, com os olhos fixos nos ladrilhos. O sol desaparecia detrás do muro e, ao declinar, os idiotas faziam festa. A princípio, a luz alucinante chamava sua atenção e, pouco a pouco, seus olhos se animavam: riam finalmente estrepitosos, congestionados pela mesma hilaridade ansiosa, contemplando o sol com uma espécie de alegria bestial..


Outras vezes, alienados no banco, zumbabam horas inteiras, imitando o bonde elétrico. Os ruídos violentos sacudiam desta forma sua inércia e então corriam, mordendo a própria língua e bramando, ao redor do pátio. Contudo, quase sempre estavam apagados, imersos na profunda letargia do idiotismo, e passavam todo o dia sentados em seu banco, com as pernas suspensas e quietas, empapando a calça de uma saliva grossa.


O mais velho tinha doze anos e o menor, oito. Em todo seu aspecto sujo e miserável, notava-se a falta absoluta de um mínimo cuidado maternal..


Esses quatro idiotas, no entanto, tinham sido um dia o encanto de seus pais. Com três meses de casados, Manzzini e Berta orientaram seu estreito amor de marido e mulher, mulher e marido, para um futuro muito mais vital: um filho. Que maior felicidade para dois apaixonados que essa honrosa consagração de seu carinho, libertado já do vil egoísmo de um mútuo amor sem fim nenhum e o que é pior para o amor mesmo, sem esperanças possíveis de renovação?


Assim estavam Mazzini Berta, e quando o filho nasceu, aos catorze meses de casamento, acreditaram cumprida sua felicidade. A criança cresceu bela e radiante, até um ano e meio. Porém, no vigésimo mês, sacudiram-na uma noite convulsões terríveis, e na manhã seguinte não conhecia mais seus pais. O médico  examinou-o com essa atenção profissional de quem está visivelmente buscando o mal nas enfermidades dos pais.


Depois de alguns dias, os membros paralisados recuperaram o movimento; porém a inteligência, a alma, até o instinto se haviam ido tudo: tinha ficado profundamente idiota, babão, pendente, morto para sempre sobre os joelhos da sua mãe.


— Filho, meu filho querido!— soluçava esta, sobre aquela espantosa ruína de seu primogênito.


O pai, desolado, acompanhou-a ao médico.


— A você se pode dizê-lo. Creio que é um caso perdido. Poderá melhorar, educá-lo com todas as limitações de seu idiotismo, porém não mais longe.


— Sim…! Sim — assentia Mazzini. — Porém, diga-me: você acredita que é hereditário, que...?


— Quanto à hereditariedade paterna, já lhe disse o que acreditava quando vi seu filho. Respeito sua mãe, mas há ali um pulmão que não sopra bem. Não vejo nada mais, porém há um sopro um pouco áspero. Faça com que ela o examine bem.


Com a alma destroçada pela aflição, Mazzini redobrou o amor a seu filho, o pequeno idiota que pagava pelos excessos do avô. Teve assim mesmo que consolar, prestar apoio sem trégua a Berta, ferida no mais profundo por aquele fracasso de sua jovem maternidade.


Como é natural, o casamento pôs todo seu amor na esperança de outro filho. Nasceu este, e sua saúde e seu riso límpido reacenderam o futuro entinto. Porém, aos dezoito meses as convulsões do primogênito se repetiram, e no dia seguinte amanheceu idiota.


Desta vez, os pais mergulharam em profundo desespero. Logo seu sangue, seu amor estavam malditos! Seu amor, sobretudo! Vinte e oito anos ele; vinte e dois, ela, e toda sua apaixonada ternura não conseguia criar um átomo de vida normal. Já não pediam mais beleza e inteligência como no primogênito; mas apenas um filho! Um filho, como todos!


Do novo desastre brotaram novas labaredas do dolorido amor, um louco desejo de redimir uma vez para sempre a santidade de sua ternura. Vieram gêmeos, e ponto por ponto, repetiu-se o processo dos dois mais velhos.


Mas, por cima de sua imensa amargura, ficava em Mazzini e Berta uma grande compaixão por seus quatro filhos. Teve que arrancar do limbo da mais funda animalidade, não já suas almas, senão o instinto mesmo abolido. Não sabiam deglutir, trocar de lugar, nem mesmo sentar-se. Aprenderam finalmente caminhar, porém se chocavam contra tudo, por não se dar conta dos obstáculos. Quando os banhavam, mugiam até injetar-se de sangue o rosto. Animavam-se somente ao comer, ou quando viam cores brilhantes ou quando ouviam trovões. Riam-se, então, jogando para fora a língua e rios de baba, radiantes de frenesi bestial. Tinham, em troca, certa faculdade imitativa; porém não se pode obter nada mais. Com os gêmeos parecia haver-se concluído a aterradora descendência. Contudo, transcorridos três anos, desejaram de novo ardentemente outro filho, confiando em que o longo tempo transcorrido houvesse serenado a fatalidade.


Não satisfaziam suas esperanças. E nesse ardente desejo que se exasperava,  em razão de sua infrutuosidade, acidularam-se. Até esse momento, cada qual havia tomado sobre si a parte que lhe correspondia na miséria de seus filhos; porém a desesperança de redenção ante as quatro bestas que haviam nascido deles, jogaram fora essa imperiosa necessidade de culpar aos outros, que é patrimônio específico dos corações inferiores..


Iniciaram-se com a troca do pronome: teus filhos. E, além do insulto, havia a insídia, a atmosfera se carregava.


—Me parece — disse-lhe uma noite Mazzini, que acabava de entrar e lavava as mãos— que poderias deixar mais limpos os meninos.


Berta continuo lendo como si não o houvesse ouvido.


— É a primeira vez — refez-se a tempo— que te vejo inquietar-te pelo estado de teus filhos.


Mazzini voltou um pouco a cara para ela com um sorriso forçado:


— De nossos filhos, me parece?


— Bom; de nossos filho. Fica bem assim? —levantou ela os olhos.


Desta vez,  Mazzini expressou-se claramente:


— Creio que não vais dizer que eu tenho a culpa, não?


—Ah, não! — sorriu Berta, muito pálida — porém eu tampouco, suponho...! Não faltava mais...! —murmurou


— O quê, não faltava mais?


— Que se alguém tem a culpa, não sou eu, entenda-o muito bem! Isso é o que queria te dizer.


Seu marido olhou-a por um momento, com um brutal desejo de insultá-la.


— Deixemos! — articulou, secando-se por fim as mãos.


— Como quiseres; porém se quiseres dizer….


— Berta!


— Como quiseres!


Este foi o primeiro choque, e lhes sucederam outros. Porém, nas inevitáveis reconciliações, suas almas uniam-se com duplo arrebatamento e loucura por outro filho.


Nasceu assim uma menina. Viveram dois anos com a angústia à flor da pele, esperando sempre outro desastre. Nada aconteceu, entretanto, e os pais puseram nela toda sua complacência, que a pequena levava ao mais extremos limites do mimo e da má criança.


Se assim nos último tempo Berta cuidava sempre de seus filhos, ao nascer Bertita, esqueceu-se quase de todo dos outros. Só sua recordação a horrorizava, como algo atroz que a houvessem obrigado a cometer. A Mazzini, bem que em menor grau, acontecia o mesmo.


Não por isso a paz havia chegado a suas almas. À menor indisposição de sua filha, corria para fora, com o terror de perdê-la, os rancores de sua descendência podre. Tinham acumulado ressentimento de sobra para que o vaso ficasse tenso, e ao menor contato o veneno o veneno se esvaziasse para fora. Desde o primeiro desgosto inoculado, haviam-se perdido o respeito; e se há algo que o homem se sente trasladado com cruel gozo é quando já se começou a humilhar de todo a uma pessoa. Antes se continham pela mútua falta de êxito; agora que este havia chegado, cada qual, atribuindo-o a si mesmo, sentia maior a infâmia das quatro aberrações que o outro lhe havia forçado a conceber.


Com estes sentimentos, não houve já para os quatro filhos maiores nenhum afeto possível.  A empregada doméstica os vestia, dava-lhes de comer, deitava-os, com visível brutalidade. Quase nunca os banhava. Passavam quase todo o dia sentados de frente para o muro, abandonados de qualquer remota carícia.


Deste modo, Bertita cumpriu quatro anos, e nessa noite, por causa dos doces que era aos pais absolutamente negar-lhe, a menina teve calafrios e febre. O temor de vê-la morrer ou tornar-se idiota, tornou a reabrir a eterna ferida.


Fazia três horas que não se falavam e o motivo foi, como quase sempre, os fortes passos de Manzini.


— Meu Deus! Não podes caminhar mais devagar? Quantas vezes...?


— Bem, é que me esqueço. Acabou-se. Não o faço de propósito.


Ela sorriu com desdém:


— Não, não te acredito tanto!


— Nem eu, jamais, tinha acreditado tanto em ti....tisiquinha!


— Quê! Quê disseste...?


— Nada!


— Sim, ouvi algo de ti! Olha, não sei o que disseste; porém te juro que prefiro qualquer coisa a ter um pai como o que tens tido tu!


Manzini ficou pálido.


— Por fim! —murmurou com os dentes cerrados.— Por fim, víbora, hás dito o que querias!


— Sim, víbora, sim! Porém eu tive pais sadios! Ouves? Sadios! Meu pai não morreu de delírios!Eu havia de ter tido filhos como os de todo o mundo! Esses são filhos teus, os quatro, teus!


Mazzini explodiu por sua vez:


— Víbora tísica!Isso é o que lhe disse, o que quero te dizer! Pergunta-o ao médico, pergunta ao médico quem tem a maior culpa da meningite de teus filhos: meu pai ou teu pulmão doente, víbora!


Continuaram cada vez mais com maior violência, até que um gemido de Bertita selou instantaneamente suas bocas. À uma da manhã, a ligeira indigestão havia desaparecido, como acontece fatalmente com todos os casais jovens que têm se amado intensamente uma vez sequer, a reconciliação chegou, tanto mais efusiva quanto  mais ofensivos foram os ultrajes.


Amanheceu um dia esplêndido, e enquanto Berta se levantava, cuspiu sangue. As más emoções e a má noite passada tinham, sem dúvida, grande culpa. Mazzini a reteve abraçada um longo tempo, e ela chorou desesperadamente, porém sem que nenhum se atrevesse a dizer uma palavra..


Às dez decidiram sair, depois de comer. Como mal tinham tempo, ordenaram à empregada
que matasse uma galinha.


O dia radiante havia arrebatado os idiotas de seu banco. De modo que enquanto a empregada degolava na cozinha a ave, dessangrando-a com parcimônia (Berta havia aprendido de sua mãe este bom modo de conservar a carne mais fresca), acreditou sentir algo como respiração atrás dela. Voltou-se, e viu aos quatro idiotas, com os ombros emparelhados um ao outro, olhando estupefatos a operação...Vermelho...Vermelho....


— Senhora, os meninos estão aqui na cozinha.


Berta chegou; não queria que jamais pisassem ali. E nem ainda nessas horas de pleno perdão e felicidade reconquistada, podia evitar-se essa horrível visão! Porque, naturalmente, quando mais intensos eram os  êxtases de amor a seu marido e sua filha, mais irritado era seu humor com os monstros.


— Que saiam, Maria! Expulse-os! Expulse-os, lhe digo!


As quatro pobres bestas, sacudidas, brutalmente empurradas, foram para seu banco.


Depois de almoçar, saíram todos. A empregada foi a Buenos Aires, e o casal a passear pelas chácaras. Quando o sol baixou voltaram, porém, Berta quis saudar um momento suas vizinhas de frente. Sua filha escapou-se em seguida rumo a casa.


Entretanto os idiotas não se haviam movido todo o dia de seu banco. O sol já havia transposto o muro, começava a fundir-se, e eles continuavam contemplado os ladrilhos, mais inertes do que nunca.


De repente, algo se interpôs entre seu olhar e o muro. Sua irmã, cansada de cinco horas junto ao pai, queria observar por sua conta. Parada ao pé do muro, olhava pensativa o cume. Queria subir, isso não oferecia dúvida. Por fim decidiu-se por uma cadeira, sem fundos, porém faltava mais. Recorreu então a uma caixa de querosene e seu instinto topográfico fez-lhe colocar o móvel na vertical, com o qual triunfou.


Os quatro idiotas, com o olhar indiferente, viram como sua irmã lograva pacientemente dominar o equilíbrio, e como, na ponta dos pés, apoiava a garganta sobre o topo do morro, entre suas mãos delicadas. Viram-na olhar para todos os lados, e buscar apoio com o pé para elevar-se mais.


Porém o olhar dos idiotas havia se animado. Uma mesma luz insistente estava fixa em suas pupilas. Não afastavam os olhos de sua irmã, enquanto uma crescente sensação de gula bestial ia transtornando cada linha de seus rostos. Lentamente avançaram até o muro. A pequena, que tendo conseguido calçar um pé, ia já montar a cavalo no muro e a cair do outro lado, seguramente, mas sentiu-se segura pela perna. Debaixo dela, os oito olhos cravados nos seus lhe deram medo.


— Solta-me! Deixa-me! —gritou sacudindo a perna. Porém foi atraída.


— Mamãe! Ai, Mamãe! Mamãe, papai! — chorou imperiosamente. Tratou ainda de agarrar-se à borda, porém sentiu-se arrancada e caiu.


— Mamãe, aí! Ma... — Não conseguiu gritar mais. Um deles lhe apertou o pescoço e os outros arrastaram-na por uma só perna até a cozinha, onde essa manhã haviam dessangrado a galinha, bem submissa, arrancando-lhe a vida por segundos.


Mazzini, na casa em frente, acreditou ouvir a voz de sua filha.


— Me parece que te chama — disse-lhe Berta.


Prestaram atenção, inquietos, porém não ouviram mais nada. Contudo, um instante depois se separaram, e enquanto Berta ia deixar seu chapéu, Manzzini avançou no pátio:


—Bertita!


Ninguém respondeu.


— Bertita! —elevou mais a voz, já alterada.


E o silêncio foi tão fúnebre para seu coração sempre aterrorizado, que a coluna se lhe gelou de um horrível pressentimento


— Minha filha! — correu já desesperado até os fundos. Porém ao passar em frente da cozinha, viu no piso um mar de sangue. Empurrou violentamente a porta entreaberta, e lançou um grito de horror.


Berta, que já se havia lançado correndo por sua vez ao ouvir o aflito chamado do pai, ouviu o grito e respondeu com outro. Porém ao precipitar-se na cozinha, Manzini, muito lívido, interpôs-se, contendo-a.


— Não entres! Não entres!


Berta conseguiu ver o piso inundado de sangue. Só pôde jogar seus braços sobre a cabeça e abraçar-se ao marido com um áspero suspiro.







Por Ana Sousa

Infinitude discreta


  O, tão complexo, conhecimento da linguagem,  é parte da nossa biologia. Se já não nascêssemos com ele, não haveria meio de aprendê-lo só através da observação das coisas. Se a linguagem fosse aprendida como em um jogo de repetição, só seríamos capazes de falar o que ouvimos, mas – de fato – quando falamos uma língua demonstramos saber muito mais do que aquilo que ouvimos. Essa propriedade da nossa capacidade de linguagem é conhecida pelos linguistas como infinitude discreta, ou seja, somos capazes de produzir um número infinito de expressões gramaticais a partir de um conjunto finito de elementos e princípios linguísticos. 

  Essa propriedade se manifesta também no nosso conhecimento de matemática: quantos números podemos formar? Qual é o fim dos números? Essas perguntas são até cômicas de tão óbvias, não é? Todos sabemos que podemos formar um sem fim de números, com apenas dez algarismos. É assim também com os sons das línguas: com vinte ou trinta sons podemos produzir quantas palavras? Não dá nem para contar porque não tem fim. Será que alguém nos ensinou essa capacidade? Nossos pais certamente nunca nos disseram algo como: “olha, meu filho, você pode formar tantas palavras quantas quiser, combinando esses sons, tá?” Fica realmente engraçado falar assim, porque esse conhecimento já veio com a gente, é uma das propriedades fundamentais do nosso órgão da linguagem.

Na  imagem abaixo, destacam-se duas áreas do cérebro relacionadas à linguagem: à esquerda, a chamada área de Broca, ligada à produção da linguagem e, mais à direita, a área de Wernicke, associada à compreensão da linguagem.

Áreas da linguagem no cérebro





Fonte:  Marcos Maia / Manual de Lingüística: subsídios para a formação de professores indígenas na área de linguagem.





Por Ana Sousa.


Quando o verbo é irregular "dá problema"





“Uma professora tentava ensinar aos seus alunos o passado (pretérito perfeito/ modo indicativo) dos verbos de segunda conjugação:
Professora: – Vender? Ele...
Alunos: – Vendeu.
Professora: – Viver? Ele...
Alunos: – Viveu.
Professora: – Caber.
Alunos: – Cabeu.
Professora: – Errado! O certo é “coube”.
Alunos: – !!??
Um menino, no entanto, insistia em usar a forma “cabeu”, ao invés de “coube”. A professora, então, mandou que ele copiasse 100 vezes: “Não é cabeu, e sim coube”. O menino trabalhou durante quase uma hora no
exercício. Enfim, entregou a folha à professora:
– Terminei,mas só copiei a frase 99 vezes, porque a última não
cabeu...”



Como podemos interpretar essa história?
O aluno mostrou que conhece a regra das desinências verbais, mas desconhece a quebra da regra no caso dos verbos irregulares.
Será que não seria mais útil se a professora explicasse que, embora o aluno tenha demonstrado o
conhecimento da regra, há nesse caso, uma exceção?






Por Ana Sousa


A Faculdade da Linguagem


A linguagem é uma faculdade mental, uma capacidade que todos os seres humanos (e somente os seres humanos possuem) . Essa capacidade pode ser considerada um órgão da mente e nos permite adquirir e usar diferentes línguas.

Essa faculdade da linguagem é, o que mais diferencia a espécie humana de todas as outras espécies, pois somente o ser humano é capaz de se comunicar através da fala.

O papagaio, por exemplo, por mais esperto que seja não possui essa faculdade em sua mente e é por essa razão que até aprendem a reconhecer ou produzir algumas palavras isoladas, mas não são capazes de formar frases originais.










Por Ana Sousa

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Bienal do Livro deve atrair cerca de 600 mil visitantes





Rio de Janeiro - A 15ª Bienal do Livro do Rio de Janeiro abre as portas ao público ao meio-dia, em três pavilhões do Riocentro, zona oeste da cidade, com a expectativa de atrair cerca de 600 mil visitantes até o dia 11. “A gente está achando que esta Bienal tem tudo para ser a melhor de todas”, disse à Agência Brasil a presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), entidade organizadora do evento, Sonia Jardim.
Durante os 11 dias de duração da Bienal, 950 expositores oferecerão seus produtos ao público, em uma área que cresceu 20% em relação à Bienal anterior, de 2009. O faturamento projetado alcança R$ 53 milhões e deverá repetir o número registrado na edição anterior.

O projeto totalizou investimentos de R$ 27 milhões, sendo R$ 4,2 milhões investidos na programação cultural. Esse valor foi 2,5 vezes superior ao total investido na programação cultural em 2009. A ideia é aproximar os visitantes dos escritores e de suas obras, apostando na diversidade.

A Bienal Rio 2011 vai repetir atrações que fizeram sucesso em 2010. Entre elas, o Café Literário, que traz 38 sessões de debates e conversas informais entre escritores e leitores. No Mulher e Ponto, autoras de livros que retratam variados temas de interesse feminino conversarão e trocarão ideias em 16 sessões.

No espaço Livro em Cena, atores e atrizes lerão para o público textos de obras clássicas da literatura. Estão programados ainda o Encontros com Autores e a Conexão Jovem.

Mil títulos serão lançados na Bienal do Rio. “Para o editor, esse é o grande momento do setor”, disse Sonia Jardim. Ela avaliou que o período, marcado pela maior propaganda sobre livros nos jornais e na televisão, acaba estimulando a leitura no país. “As feiras têm esse objetivo de trazer o livro para o holofote.”

Segundo a presidente do Snel, na Bienal passada, a média foi de cinco livros vendidos para cada pessoa. “74% do público saíram da Bienal carregando uma sacola”. Muitas editoras usam a estratégia de promover campanhas de descontos progressivos durante a Bienal, com o objetivo de ampliar as vendas e, ao mesmo tempo, aumentar o número de leitores. O Snel prevê que serão vendidos durante o evento 2,5 milhões de exemplares.

Essa é a primeira vez que a Bienal do Livro do Rio de Janeiro homenageia o Brasil. “Surgiu a ideia de aproveitar esse momento positivo que o Brasil tem, inclusive no exterior”. Sonia lembrou que o Brasil será homenageado também, em 2012, na Feira de Bogotá, na Colômbia; em 2013, na Feira de Frankfurt (Alemanha); e em 2014, na Feira de Bolonha, na Itália. “Então, resolvemos começar o dever de casa, em casa”, disse Sonia.

Nesta edição, participarão 21 autores estrangeiros e 120 brasileiros. O programa de visitação tem garantido o ingresso de 170 mil crianças, em dias reservados para elas. Os estudantes inscritos previamente recebem a Nota da Bienal, que é um vale de R$ 5, que poderá ser trocado por um livro.

Ainda para o público infantil, haverá um novo espaço, o Maré de Livros, no qual crianças e adolescentes poderão interagir e divertir-se com palavras. Na Biblioteca Mirim, o público infantojuvenil poderá ouvir seis sessões diárias de histórias.

Essa será ainda a primeira bienal que oferecerá um espaço dedicado aos livros eletrônicos, os chamados e-books, oferecendo aos visitantes a oportunidade do primeiro contato com novas tecnologias e equipamentos do mundo editorial, como tablets (computadores de prancheta) e e-readers (livros digitais).

A abertura oficial está prevista para as 15h30, com a presença da presidenta da República, Dilma Rousseff, dos ministros da Educação, Fernando Haddad, e da Cultura, Ana de Hollanda, além do governador, Sergio Cabral, e do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.


Edição: Talita Cavalcante

Fonte: Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

MT- Mestrado em Linguística lança revista Traços de Linguagem

Fonte: Plantão News


O Mestrado em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) lançou a revista do Programa de Pós–graduação “Traços de Linguagem”, que será editada anualmente com trabalhos de temática livre de todas as áreas de investigação das línguas e da linguagem humana.

Para o primeiro volume a revista irá receber trabalhos inéditos até o dia 30 de maio. A previsão de publicação do volume 1 de Traços de Linguagem é no dia 30 de junho.

A revista será publicada em formato digital com textos completos e acesso gratuito. O endereço eletrônico para a revista onde os interessados também podem conferir as normas de publicação é: http://www2.unemat.br/tracosdelinguagem/index.htm

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Esse era o "cara"

Ah, que saudade da época em que o Brasil produzia música de verdade....
Hoje, infelizmente, poucos se salvam...
RENATO RUSSO: O cara conseguiu estabelecer uma perfeita simetria entre sua inspiração poética e os versos de Camões...

Pena ter nascido com uns aninhos de atraso!!!! Snif, snif... Como eu queria ter presenciado a um show do Legião Urbana...













Realmente, sem amor, nada seríamos.








Por Ana Sousa

domingo, 4 de setembro de 2011

Eu sigo
avançando o sinal vermelho;
cortando a preferencial sem cautela;
Buscando
no reflexo do meu espelho,
o que todo mundo espera.

"Em minha simplicidade, busco a felicidade"...



Por Ana Sousa